sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Mesmo longe do rádio Francisco José não é esquecido pelo público

“E todo mundo sabe quem é ele”. Esse é um trecho da música da cantora Miss Lene, que durante muito e muito tempo era repetido todos os dias, pela manhã ou tarde, em várias rádios baianas, que marcava a abertura característica do programa de Francisco José. Ele é um dos comunicadores consagrados da radiofonia que marcou época em Feira de Santana e outras cidades da Bahia. Com quase 40 anos de carreira, Chico José atualmente está longe dos microfones de rádio, mas pode voltar a qualquer momento. Este e outros detalhes, o locutor contou em entrevista a Patrícia Salles e Reginaldo Junior, esta semana no programa “G de Mulher” da Rádio Geral, e que hoje é publicada no FOLHA DI ESTADO. Confira.


FOLHA DO ESTADO – Ser radialista foi uma opção, ou a profissão aconteceu na sua vida por acaso?

FRANCISCO JOSÉ – Minha mãe dizia que quando eu era pequeno tinha a mania de pegar um cabo de vassoura e ficar entrevistando meus irmãos. Acho que este foi o primeiro passo para que eu enveredasse pelo caminho da comunicação. As coisas aconteceram muito precocemente comigo e quando eu falo que estou chegando aos 40 anos de rádio, as pessoas pensam até que sou bem mais velho, em termos de idade, mas a verdade é que eu comecei a trabalhar muito cedo, ainda criança.

FE- Muitas pessoas acham a sua voz marcante. De onde ela veio? Pode revelar?

FJ – Tudo isso faz parte de um processo. Tudo começou com o meu saudoso pai, que em Alagoinhas tinha um serviço de alto-falantes, onde se anunciava todo o tipo de coisa: mortes, documentos perdidos, serviço de utilidade pública, sabe? Então o estúdio ficava no centro da cidade e meu pai ainda tinha 150 projetores de som (os antigos alto-falantes) espalhados pelos bairros. Era a rádio da cidade e eu, ainda menino, já lia textos, fazia gravações e mesmo com a voz ainda fina, eu fazia este trabalho. Depois o tempo foi passando, fui amadurecendo até a voz chegar a este ponto.

FE – E o rádio profissional? Como surgiu na sua vida?

FJ – No final da década de 70, eu tinha uns 12, 13 anos, quando surgiu a Rádio Emissora de Alagoinhas. Coincidentemente, o filho do dono era meu amigo e nós, todas as noites íamos para o estúdio aprender a operar, a mexer nos equipamentos. Isso acontecia às 22 horas, depois que a rádio encerrava a programação e ficávamos lá até meia noite, muitas vezes até 1 hora da manhã aprendendo. Com 13 anos, o dono da rádio me contratou e então eu tive meu primeiro emprego de carteira assinada.

FE- Depois o tempo passou e o senhor foi para a capital trabalhar na Rádio Sociedade da Bahia. Como foi esta passagem?

FJ – Foi marcante porque tínhamos uma equipe de profissionais espetacular, muito criativa. Aliás, tenho orgulho em dizer que junto com companheiros como Osvaldo Maia, Silva Rocha, Jota Lacerda e o saudoso Fernando José criamos o Balanço Geral, apresentado pelo Fernando que chegou a ser prefeito de Salvador, que continua até hoje sendo um dos programas de maior audiência da Bahia e do Brasil. Lá, eu comecei a fazer um programa de variedades e a audiência era tanta que fui contratado pela Rádio Bahia na época por um bom salário.

FE – E em Feira de Santana? Quando o senhor chegou e qual a sua trajetória?

FJ – Isso aconteceu em 1986 e de lá para cá trabalhei em todas as emissoras AM da cidade, sendo que em algumas, por mais de uma vez. Sempre fazendo um programa de variedades com muitos quadros, que agradava em cheio a todas as classes sociais.Através do programa dava conselhos as pessoas que tinham problemas amorosos, ajudava a formar casais com o quadro “A procura de um amor”, ajudava a encontra pessoas desaparecidas. Era uma programação rica que agrava a todos sem distinção.

FE – Como era interação com o público?

FJ – Era excelente porque naquele tempo, os computadores e redes sociais nem sonhavam em existir e a distração das pessoas era o rádio. Sempre muitas pessoas participavam do programa por meio de cartas, ou mesmo por telefone. Como era bom saber que o programa tinha audiência em todos os cantos da cidade e em outros municípios também. A prova disso era a grande quantidade de cartas que recebíamos por dia. Alí a gente via a audiência da rádio.

FE – A grande audiência era então maior salário para os profissionais?

FJ – Eu diria que era um grande desafio e como sempre fui um homem que gostou de encarar desafio, procurava sempre fazer o melhor. Vou citar apenas um exemplo: ainda nos anos 90, eu trabalhava na Rádio Cultura, quando o Roberto Pazzi me telefonou convidando para trabalhar na Rádio Carioca, hoje, Rádio Povo. Ele disse “quero você aqui porque preciso levantar a audiência da rádio”. Eu disse que se em três meses, a audiência da emissora não subisse, ele poderia me mandar embira sem pagar nada. Com um mês a situação mudou e a rádio passou a ter grande audiência. Daí eu trabalhei outras duas vezes na emissora, sempre com o mesmo sucesso.

FE –Por que então o senhor deixou o rádio?

FJ – Com a mudança do regime de administração das emissoras de rádio, passando a ter programação terceirizada, eu me senti como um “peixe fora d’água” porque eu vim de uma escola de rádio onde o profissional do microfone não tinha que vender comercial, Éramos proibidos de fazer isso porque as emissoras tinham seus departamentos comerciais, ou seja, era nossa obrigação, por exemplo, encaminhar empresários amigos que gostavam do programa e queriam patrocinar para o setor competente. Na Sociedade da Bahia, por exemplo, quando acontecia este tipo de situação, a gente encaminhava para o Djalma Costa Lino e Fernando Rocha, que eram responsáveis pela parte comercial da emissora. Hoje, o locutor tem que visitar lojas para vender anúncios, o que sinceramente eu não faço. Eu cheguei a ter comerciais no meu programa por questão mesmo de amizades com os empresários, mas daí a eu sair de loja em loja vendendo anúncios, isso, eu repito, não faço porque não sou vendedor, sou radialista.

FE – O senhor então acredita que a terceirização fez cair a qualidade da programação das rádios?

FJ – Sim porque hoje, o profissional vale pelo que vende e não pela sua qualidade técnica. Ele pode ser um mal locutor, mas sendo bom vendedor é o que importa. Veja que Feira ao longo do tempo sempre revelou grandes profissionais, como por exemplo o Jota Lacerda, que hoje atua no rádio cearense; o Ed Carlos; Edmundo de Carvalho e o Othon Carlos, que para mim é um exemplo de superação porque mesmo sendo deficiente visual, ele continua com a qualidade de anos atrás quando enxergava. Hoje eu olho e não vejo mais situações como esta, justamente pela falta de um trabalho de melhor qualidade.

FE – Durante este tempo houveram momentos marcantes?

FJ-- Ah, tiveram muitos sim. Me lembro de um agora quando um dia eu estava na Rádio Povo fazendo o programa, quando recebi a visita de um caminhoneiro vindo do Estado de Goiás. Ele me trazia uma carta de uma senhora que estava a procura de um filho que estaria residindo aqui. Li a carta e uns 20 minutos depois, o rapaz ligou para a rádio. Ele morava na Cidade Nova e no outro dia veio a emissora no horário do programa. Então liguei para a senhora e iniciamos uma conversa e no decorrer disse a ela que alguém queria lhe falar. Quando ela ouviu a voz do filho, se desmanchou em lágrimas e todos se emocionaram muito. Essa situação inclusive, na época, virou matéria na TV Subaé.

FE – Também, muitos casais se conheceram através do quadro “A procura de um amor”

FJ – Sim, muitos casais se conheceram e casaram. Outro dia mesmo, eu entrei em uma padaria, na Pampalona, um rapaz reconheceu a minha voz e me disse que a há muitos anos tinha conhecido a sua esposa através do programa e isso me deixou muito feliz porque também contribuí para a formação de famílias.

FE – O senhor hoje está completamente afastado da comunicação?

FJ – Não, eu hoje sou um prestador de serviços para a Secretaria de Comunicação da prefeitura de Feira. Faço gravações, apresento eventos e ainda sou pastor evangélico. Hoje trabalho numa igreja na Pampalona, onde temos cultos pelo menos, três vez por semana. Ainda gravo comerciais em geral e isso tudo toma meu tempo, o que me deixa afastado momentaneamente do rádio.

FE – Se recebesse um convite para voltar ao rádio hoje, retornaria?

FJ – Já recebi convites, mas por hora não quero assumir maiores compromissos. È uma situação que posso analisar futuramente. Por hora fico apenas na saudade dos ouvintes e de vez em quando sou entrevistado, vou a emissoras de rádio porque não quero perder completamente o contato com o rádio. Hoje, por exemplo, continuo gravando comerciais, chamadas para carros de som e quando não tenho absolutamente nada para fazer vou gravar as chamadas para os cultos da igreja. Isso tudo significa que ainda continuo altamente ativo na comunicação.

FE – Se voltasse, faria um programa como o de anos atrás?

FJ – Basicamente sim. Agora teria que acompanhar a evolução, mesmo porque hoje o ouvinte quer notícias, informações sempre utilizando as redes sociais. Então colocaria mais notícias, intercalando com quadros já de sucesso consagrado no programa.  

FE- O senhor também é pastor evangélico. Como está sendo esta nova fase na sua vida?

FJ – Durante muito tempo em minha vida, vi que muitas coisas não davam certo e sempre me questionava sobre o porquê disso. Era muito afastado, mas Deus tinha este plano reservado para a minha vida e quando entendi isso partir para fazer a obra dele. Estou com uma igreja na rua principal da Pampalona há oito meses e o trabalho tem sido altamente positivo: já batizamos 10 pessoas e os nossos cultos andam sempre cheios, o que é excelente para a honra e glória de Deus.

FE – Como é o contato com o público? O senhor ainda é reconhecido?

FJ – Com certeza. Até mesmo na igreja, quando as pessoas sabem que quem está pregando é o Francisco José, elas vêm e conversam sempre comigo e falam “mas é você mesmo?” “por que não volta para o rádio?”. Isso me deixa muito feliz porque sei de alguma forma ainda continuo fazendo parte da vida destas e de outras milhares de pessoas que eu nem tenho contato, mas sei que me ouviam em qualquer prefixo.

FE – Algum projeto em especial para 2015?

FJ-  Junto com outros dois colegas, estamos montando uma exposição sobre a história do rádio. Estamos buscando material antigo, como gravadores de rolo, cartucheiras, microfones e outros apetrechos para mostrar as pessoas como era o rádio antigo. É um projeto que pretendemos lançar aqui em Feira e posteriormente levar para outras cidades.


Por: Cristiano Alves - Editor-chefe - Jornal Folha do Estado

Um comentário:

  1. Moises Santana de Abreu4 de janeiro de 2015 às 14:21

    Parabéns ao jornal Folha do Estado por ter publicado essa entrevista com esse grande radialista! Meu pai sou seu fá, admiro muito e sinto muito orgulho de você, pois tudo o que falou aqui é a pura realidade que acontece hoje em dia, é uma pena não ter essa voz tão bela e que leva tanta alegria aonde é escutada, tempo bom que não esqueço quando eu ia a rádio carioca e passava a manhã toda ouvindo e vendo você fazer o programa com tanto amor e carinho! Mais o que importa nessa vida é o que fizemos e o que se faz, pois ficará lembrado para sempre e por todos, fui privilegiado em ter o senhor como pai e nunca esquecerei os momentos bons que deixou saudades!!! "Quem sabe sabe" "a procura de um amor" Rssss muito bom. Seu filho Moisés Santana de Abreu

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