“E todo mundo sabe quem é ele”. Esse é um trecho da
música da cantora Miss Lene, que durante muito e muito tempo era repetido todos
os dias, pela manhã ou tarde, em várias rádios baianas, que marcava a abertura
característica do programa de Francisco José. Ele é um dos comunicadores
consagrados da radiofonia que marcou época em Feira de Santana e outras cidades
da Bahia. Com quase 40 anos de carreira, Chico José atualmente está longe dos
microfones de rádio, mas pode voltar a qualquer momento. Este e outros
detalhes, o locutor contou em entrevista a Patrícia Salles e Reginaldo Junior,
esta semana no programa “G de Mulher” da Rádio Geral, e que hoje é publicada no
FOLHA DI ESTADO. Confira.
FOLHA DO ESTADO – Ser radialista foi uma opção, ou a
profissão aconteceu na sua vida por acaso?
FRANCISCO JOSÉ – Minha mãe dizia que quando eu
era pequeno tinha a mania de pegar um cabo de vassoura e ficar entrevistando
meus irmãos. Acho que este foi o primeiro passo para que eu enveredasse pelo
caminho da comunicação. As coisas aconteceram muito precocemente comigo e
quando eu falo que estou chegando aos 40 anos de rádio, as pessoas pensam até
que sou bem mais velho, em termos de idade, mas a verdade é que eu comecei a
trabalhar muito cedo, ainda criança.
FE- Muitas pessoas acham a sua voz marcante. De onde ela
veio? Pode revelar?
FJ – Tudo isso faz parte de um processo. Tudo
começou com o meu saudoso pai, que em Alagoinhas tinha um serviço de
alto-falantes, onde se anunciava todo o tipo de coisa: mortes, documentos
perdidos, serviço de utilidade pública, sabe? Então o estúdio ficava no centro
da cidade e meu pai ainda tinha 150 projetores de som (os antigos
alto-falantes) espalhados pelos bairros. Era a rádio da cidade e eu, ainda
menino, já lia textos, fazia gravações e mesmo com a voz ainda fina, eu fazia
este trabalho. Depois o tempo foi passando, fui amadurecendo até a voz chegar a
este ponto.
FE – E o rádio profissional? Como surgiu na sua vida?
FJ – No final da década de 70, eu tinha uns 12,
13 anos, quando surgiu a Rádio Emissora de Alagoinhas. Coincidentemente, o
filho do dono era meu amigo e nós, todas as noites íamos para o estúdio
aprender a operar, a mexer nos equipamentos. Isso acontecia às 22 horas, depois
que a rádio encerrava a programação e ficávamos lá até meia noite, muitas vezes
até 1 hora da manhã aprendendo. Com 13 anos, o dono da rádio me contratou e
então eu tive meu primeiro emprego de carteira assinada.
FE- Depois o tempo passou e o senhor foi para a capital
trabalhar na Rádio Sociedade da Bahia. Como foi esta passagem?
FJ – Foi marcante porque tínhamos uma equipe de
profissionais espetacular, muito criativa. Aliás, tenho orgulho em dizer que
junto com companheiros como Osvaldo Maia, Silva Rocha, Jota Lacerda e o saudoso
Fernando José criamos o Balanço Geral, apresentado pelo Fernando que chegou a
ser prefeito de Salvador, que continua até hoje sendo um dos programas de maior
audiência da Bahia e do Brasil. Lá, eu comecei a fazer um programa de
variedades e a audiência era tanta que fui contratado pela Rádio Bahia na época
por um bom salário.
FE – E em Feira de Santana? Quando o senhor chegou e qual
a sua trajetória?
FJ – Isso aconteceu em 1986 e de lá para cá
trabalhei em todas as emissoras AM da cidade, sendo que em algumas, por mais de
uma vez. Sempre fazendo um programa de variedades com muitos quadros, que
agradava em cheio a todas as classes sociais.Através do programa dava conselhos
as pessoas que tinham problemas amorosos, ajudava a formar casais com o quadro
“A procura de um amor”, ajudava a encontra pessoas desaparecidas. Era uma
programação rica que agrava a todos sem distinção.
FE – Como era interação com o público?
FJ – Era excelente porque naquele tempo, os
computadores e redes sociais nem sonhavam em existir e a distração das pessoas
era o rádio. Sempre muitas pessoas participavam do programa por meio de cartas,
ou mesmo por telefone. Como era bom saber que o programa tinha audiência em
todos os cantos da cidade e em outros municípios também. A prova disso era a
grande quantidade de cartas que recebíamos por dia. Alí a gente via a audiência
da rádio.
FE – A grande audiência era então maior salário para os
profissionais?
FJ – Eu diria que era um grande desafio e como
sempre fui um homem que gostou de encarar desafio, procurava sempre fazer o
melhor. Vou citar apenas um exemplo: ainda nos anos 90, eu trabalhava na Rádio
Cultura, quando o Roberto Pazzi me telefonou convidando para trabalhar na Rádio
Carioca, hoje, Rádio Povo. Ele disse “quero você aqui porque preciso levantar a
audiência da rádio”. Eu disse que se em três meses, a audiência da emissora não
subisse, ele poderia me mandar embira sem pagar nada. Com um mês a situação
mudou e a rádio passou a ter grande audiência. Daí eu trabalhei outras duas
vezes na emissora, sempre com o mesmo sucesso.
FE –Por que então o senhor deixou o rádio?
FJ – Com a mudança do regime de administração
das emissoras de rádio, passando a ter programação terceirizada, eu me senti
como um “peixe fora d’água” porque eu vim de uma escola de rádio onde o
profissional do microfone não tinha que vender comercial, Éramos proibidos de
fazer isso porque as emissoras tinham seus departamentos comerciais, ou seja,
era nossa obrigação, por exemplo, encaminhar empresários amigos que gostavam do
programa e queriam patrocinar para o setor competente. Na Sociedade da Bahia,
por exemplo, quando acontecia este tipo de situação, a gente encaminhava para o
Djalma Costa Lino e Fernando Rocha, que eram responsáveis pela parte comercial
da emissora. Hoje, o locutor tem que visitar lojas para vender anúncios, o que
sinceramente eu não faço. Eu cheguei a ter comerciais no meu programa por
questão mesmo de amizades com os empresários, mas daí a eu sair de loja em loja
vendendo anúncios, isso, eu repito, não faço porque não sou vendedor, sou
radialista.
FE – O senhor então acredita que a terceirização fez cair
a qualidade da programação das rádios?
FJ – Sim porque hoje, o profissional vale pelo
que vende e não pela sua qualidade técnica. Ele pode ser um mal locutor, mas
sendo bom vendedor é o que importa. Veja que Feira ao longo do tempo sempre
revelou grandes profissionais, como por exemplo o Jota Lacerda, que hoje atua
no rádio cearense; o Ed Carlos; Edmundo de Carvalho e o Othon Carlos, que para
mim é um exemplo de superação porque mesmo sendo deficiente visual, ele
continua com a qualidade de anos atrás quando enxergava. Hoje eu olho e não
vejo mais situações como esta, justamente pela falta de um trabalho de melhor
qualidade.
FE – Durante este tempo houveram momentos marcantes?
FJ-- Ah, tiveram muitos sim. Me lembro de um agora
quando um dia eu estava na Rádio Povo fazendo o programa, quando recebi a
visita de um caminhoneiro vindo do Estado de Goiás. Ele me trazia uma carta de
uma senhora que estava a procura de um filho que estaria residindo aqui. Li a
carta e uns 20 minutos depois, o rapaz ligou para a rádio. Ele morava na Cidade
Nova e no outro dia veio a emissora no horário do programa. Então liguei para a
senhora e iniciamos uma conversa e no decorrer disse a ela que alguém queria
lhe falar. Quando ela ouviu a voz do filho, se desmanchou em lágrimas e todos
se emocionaram muito. Essa situação inclusive, na época, virou matéria na TV
Subaé.
FE – Também, muitos casais se conheceram através do
quadro “A procura de um amor”
FJ – Sim, muitos casais se conheceram e casaram.
Outro dia mesmo, eu entrei em uma padaria, na Pampalona, um rapaz reconheceu a
minha voz e me disse que a há muitos anos tinha conhecido a sua esposa através
do programa e isso me deixou muito feliz porque também contribuí para a
formação de famílias.
FE – O senhor hoje está completamente afastado da
comunicação?
FJ – Não, eu hoje sou um prestador de serviços
para a Secretaria de Comunicação da prefeitura de Feira. Faço gravações,
apresento eventos e ainda sou pastor evangélico. Hoje trabalho numa igreja na
Pampalona, onde temos cultos pelo menos, três vez por semana. Ainda gravo
comerciais em geral e isso tudo toma meu tempo, o que me deixa afastado
momentaneamente do rádio.
FE – Se recebesse um convite para voltar ao rádio hoje,
retornaria?
FJ – Já recebi convites, mas por hora não quero
assumir maiores compromissos. È uma situação que posso analisar futuramente.
Por hora fico apenas na saudade dos ouvintes e de vez em quando sou
entrevistado, vou a emissoras de rádio porque não quero perder completamente o
contato com o rádio. Hoje, por exemplo, continuo gravando comerciais, chamadas
para carros de som e quando não tenho absolutamente nada para fazer vou gravar
as chamadas para os cultos da igreja. Isso tudo significa que ainda continuo
altamente ativo na comunicação.
FE – Se voltasse, faria um programa como o de anos atrás?
FJ – Basicamente sim. Agora teria que acompanhar
a evolução, mesmo porque hoje o ouvinte quer notícias, informações sempre
utilizando as redes sociais. Então colocaria mais notícias, intercalando com
quadros já de sucesso consagrado no programa.
FE- O senhor também é pastor evangélico. Como está sendo
esta nova fase na sua vida?
FJ – Durante muito tempo em minha vida, vi que
muitas coisas não davam certo e sempre me questionava sobre o porquê disso. Era
muito afastado, mas Deus tinha este plano reservado para a minha vida e quando
entendi isso partir para fazer a obra dele. Estou com uma igreja na rua
principal da Pampalona há oito meses e o trabalho tem sido altamente positivo:
já batizamos 10 pessoas e os nossos cultos andam sempre cheios, o que é
excelente para a honra e glória de Deus.
FE – Como é o contato com o público? O senhor ainda é
reconhecido?
FJ – Com certeza. Até mesmo na igreja, quando as
pessoas sabem que quem está pregando é o Francisco José, elas vêm e conversam
sempre comigo e falam “mas é você mesmo?” “por que não volta para o rádio?”.
Isso me deixa muito feliz porque sei de alguma forma ainda continuo fazendo
parte da vida destas e de outras milhares de pessoas que eu nem tenho contato,
mas sei que me ouviam em qualquer prefixo.
FE – Algum projeto em especial para 2015?
FJ- Junto com outros dois colegas, estamos
montando uma exposição sobre a história do rádio. Estamos buscando material
antigo, como gravadores de rolo, cartucheiras, microfones e outros apetrechos
para mostrar as pessoas como era o rádio antigo. É um projeto que pretendemos
lançar aqui em Feira e posteriormente levar para outras cidades.
Por: Cristiano Alves - Editor-chefe - Jornal Folha do Estado
Parabéns ao jornal Folha do Estado por ter publicado essa entrevista com esse grande radialista! Meu pai sou seu fá, admiro muito e sinto muito orgulho de você, pois tudo o que falou aqui é a pura realidade que acontece hoje em dia, é uma pena não ter essa voz tão bela e que leva tanta alegria aonde é escutada, tempo bom que não esqueço quando eu ia a rádio carioca e passava a manhã toda ouvindo e vendo você fazer o programa com tanto amor e carinho! Mais o que importa nessa vida é o que fizemos e o que se faz, pois ficará lembrado para sempre e por todos, fui privilegiado em ter o senhor como pai e nunca esquecerei os momentos bons que deixou saudades!!! "Quem sabe sabe" "a procura de um amor" Rssss muito bom. Seu filho Moisés Santana de Abreu
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